Uma vez na presença do soberano, comunicaram-lhe que
eram tecelões e que possuíam um segredo de fabricação: o segredo de um
tecido que tinha a única de não ser visível, a não ser para quem fosse
filho legítimo.
O rei já tivera que resolver muitos conflitos bem
comp
licados de heranças, e viu naquela invenção muito útil o meio de
frustrar falsos pretendentes, já que os filhos verdadeiros poderiam ver o
tecido.
Ordenou imediatamente que um palácio fosse posto à disposição dos inventores, a fim de que o segredo fosse preservado.
Convencido da honestidade deles, o rei cobriu os três cúmplices maldosos de ouro, prata e jóias.
Eles se fecharam no seu palácio e simularam, noite e dia, grande atividade.
Algumas semanas mais tarde, um deles foi informar ao
rei dos excelentes resultados do seu trabalho, e pediu-lhe que fosse
constatá-los. Seria preferível que o rei fosse sozinho.
O rei achou que seria prudente uma outra opinião sobre um tecido dotado de tais poderes, e mandou seu conselheiro.
O conselheiro foi visitar os três impostores para
examinar o tecido de propriedades mágicas, mas não conseguiu ver nada.
Como não queria admitir que para ele o tecido era invisível, voltou à
presença do rei e elogiou a maravilha que havia visto. O rei mandou
outras pessoas, que voltaram com a mesma resposta.
Decidiu então ir pessoalmente. Os três impostores lhe
descreveram a excelência de sua invenção, a variedade das cores e o
desenho original.
O rei se mantinha em silêncio, inclinado levemente a
cabeça em sinal de aprovação. Na realidade, porém, não via absolutamente
nada.
Começou então a ficar muito embaraçado.
"Será que não sou o verdadeiro filho do rei meu pai?" pensava. "Se não vejo nada, arrisco-me a perder meu trono."
Começou também a expressar sua admiração, repassando com muitos elogios todos os detalhes que acabara de escutar.
De volta ao palácio, continuou a fazer comentários sobre o tecido, como se o tivesse visto.
Entretanto uma dúvida o atormentava.
Alguns dias mais tarde mandou seu ministro ver o tecido. Os três impostores fizeram sua descrição, mas ele não via nada.
Naturalmente o infeliz ministro imaginou que não era
filho legítimo de seu pai; a única razão pela qual não via o tecido.
Sabendo que se arriscava a perder sua importante posição, limitou-se aos
termos que tinha ouvido da boca do rei e de seu conselheiro.
Foi ao encontro do rei e lhe disse que tinha visto o tecido mais extraordinário do mundo.
O rei ficou profundamente perturbado. Não havia mais
nenhuma dúvida, ele não era filho legítimo de seu pai. Mas se juntou ao
seu ministro em exclamações sobre o valor dos três tecelões.
Todos quiseram visitá-los, e todos voltaram com as mesmas impressões.
A história continuou assim até que informaram ao rei que a tecedura tinha terminado.
Este ordenou que se preparasse uma grande festa, na qual todos usariam roupas confeccionadas com o tecido maravilhoso.
Os três impostores se apresentaram com diferentes
padrões, que desenrolaram por metros e metros de extensão, e a confecção
do traje real foi decidida.
O dia da festa chegou. Os trajes estavam prontos. O
rei foi inteiramente vestido pelos três espertos. Entretanto ele não via
nem sentia nada. Uma vez terminado o trabalho, o rei montou seu cavalo e
rumou em direção à cidade.
Felizmente era pleno verão!
A multidão viu o rei e sua corte passarem e ficou muito surpresa com o espetáculo.
Mas o rumor de que só os filhos legítimos viam suas roupas circulava, e todos guardavam suas impressões para si.
Todos, exceto um estrangeiro, um negro, de passagem pela cidade, que se aproximou do rei e lhe disse:
Senhor, pouco me importa saber de quem sou filho. Por isso posso lhe dizer que, na realidade, o senhor está nu.
Furioso, o rei bateu no negro com seu chicote e lhe disse:
O fato de não ver meus trajes prova que você não é um filho legítimo!
Mas o encanto estava quebrado, assim como o silêncio e
o medo. Todos viram que o negro tinha dito a verdade e repetiram a
mesma coisa, cada vez mais alto. Risos se elevaram.
Então o rei e sua corte se deram conta de como tinham sido habilmente enganados.
Do livro: Histórias da Tradição Sufi - Editora Dervish
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